Dercy é um personagem que, como poucos, pode nos falar sobre as idealizações e expectativas ligadas à afirmação da mulher no Brasil. Cada passo de sua vida retrata dilemas da nossa sociedade.
Contra tudo e contra todos, considerando sua condição feminina e a época em que viveu, Dercy construiu uma carreira de sucessos transformando-se na nossa maior comediante.
Essa Dercy, ninguém conhece.
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O documentário que me proponho a fazer tem a intenção de se debruçar sobre contradições. Em primeiro lugar da própria Dercy, como pessoa, e em segundo lugar da sociedade que puniu o ser humano e consagrou o personagem.
No aspecto pessoal, quer falar sobre as expectativas sociais sobre o feminino (quando Dercy começou a atuar, mulheres não podiam votar) e sobre como essas expectativas se tornaram opressoras para ela. Depois, embora intimamente conservadora, viu-se engolida por uma personagem que, sem que suspeitasse, alcançou um nível inesperado de comunicação com a sociedade. Quer falar sobre como lidava com isso e sobre os reflexos que a personalidade pública trouxe para a vida particular.
No aspecto social, o documentário quer discutir como a sociedade moralista, que sistematicamente punia mulheres como Dercy, acabou por acolher sua figura com adoração. Como explicar que as mesmas pessoas que desprezavam o comportamento que ela representava, lotassem os teatros nos quais se apresentava, rindo do seu temperamento irreverente e se deleitando com sua linguagem abusada?
A ditadura militar crucificou-a em nome da moral e dos bons costumes da família burguesa do “Brasil ame-o ou deixe-o”. Ela que foi uma mãe conservadora e séria, uma mulher sem vícios, uma profissional responsável e dedicada. Dercy a obscena, Dercy a maldita foi mãe, avó e bisavó. E continuou, imoral, obscena, maldita.
E ainda hoje se, por um lado, a menção do seu nome provoca o riso, por outro – ainda que isso pareça impossível nos dias atuais – provoca manifestações de repúdio nos moralistas de plantão.
Se por um lado a trajetória de Dercy é uma prova de resiliência e sucesso, por outro ela é rica de rancores, contradições, frustrações amorosas e questões psicológicas mal resolvidas.
Filme de longa-metragem, 80 minutos, colorido, sonoro, com orçamento de 2,5 milhões de reais.
O projeto de filme de longa-metragem está sendo estruturado, para captar pelo Fundo Setorial do Audiovisual, em parceria com distribuidoras e Canais SVOD.
Produção: Etcétera Filmes
Ivo Branco
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